Minhas Memórias, Isidoro Allegrini Bertoli
Este livro é um pouco diferente dos que eu já comentei. Ele é uma autobiografia do meu padrinho, Isidoro Allegrini Bertoli. Não foi publicado por uma grande editora, mas não perde em nada para qualquer livro que tenha sido. Algumas pessoas podem dizer que para mim o livro é bom unicamente porque eu o conheço, mas estão erradas. Meu padrinho tem 92 anos, está doente e mora longe; nunca conversei direito com ele. Eu mal o conhecia, até ler o livro.
O livro nos transporta para um Paraná no coração do século XX, com suas cidadezinhas, sua capital e suas fazendas, na época em que as crianças conheciam todos os vizinhos da rua pelo nome. Logo no início, sua mãe, grávida, é assassinada pelo padrasto, que se suicida em seguida. Tudo isso na frente do meu padrinho, que na época tinha apenas 4 anos, mas se lembra claramente da cena até hoje. […] na época em que as crianças conheciam todos os vizinhos da rua pelo nome.Apesar do início trágico, a história logo toma um ritmo mais alegre, com sua infância em Curitiba, mudanças e realizações.
É quando ele se torna homem que a história fica mais impressionante, e em alguns momentos até engraçada. Depois de uma intensa passagem pela faculdade, ele se torna dentista e vai morar em Mamborê. Lá, apesar de sempre repetir que ele era dentista, e não médico, era chamado para resolver parto, unha encravada, problemas de bexiga, bebedeira… O que muitas vezes resultava em boas histórias! Vou copiar aqui um pedacinho, em que ele narra um desses casos:
“Numa madrugada o filho do Sr. Pernambuco me acordou para atender a mulher do Padeirinho, dizendo:
– Doutor, a mulher do Padeirinho está para dar à luz e não está passando bem.
Eu respondi:
– Não sou médico; eu entendo de boca e de dente.
Ele afirmou:
– É que ela está desde as 4 horas de ontem e a criança não nasce.
Exclamei:
– O quê?! Desde as 4 horas de ontem, já é madrugada, eu vou vê-la!
Cheguei lá. Nos pés da cama estavam sentadas duas atendentes pitando, o quarto todo fechado, uma fumaceira total. Mandei abrir as janelas. A mulher com dois travesseiros por baixo das pernas, uma calamidade. Eu disse:
– A criança vai nascer pela boca. Tirem esses travesseiros!
A mulher com o nariz já afilado e branca. Chamei o marido e disse:
– Vá já falar com o Sr. Doca e leve imediatamente sua mulher para o hospital em Campo Mourão, e que seja atendida urgente, senão ela morre!
Foi o que ele fez. A criança estava atravessada, de nádegas. O médico reverteu e o menino logo nasceu. Em minha homenagem, deu-lhe o meu nome: Isidoro. Deve existir, por lá, em alguma parte, um cidadão de nome Isidoro.”
Mas não apenas de histórias de dentista é feita esta autobiografia. Ela é salpicada de conflitos sociais, devido à sua ideologia marxista e atéia; e falcatruas, presentes e incômodas na vida de qualquer um. É fazenda que o Governo “desvende”, é hospital que desaparece… Histórias que, muitas vezes, nunca receberão uma explicação. Histórias incríveis, que só podem ser contadas por quem as viveu.
Este livro não está à venda nas livrarias, mas eu tenho algumas cópias e, caso alguém tenha interesse, ficarei feliz em disponibilizar.
Lemos o seu comentário, seu padrinho até se emocionou. Parabéns, gostamos muito, e ficamos felizes por saber da sua veia literária, você tem antepassados escritores, espero que continue, bençoes seus padrinhos.
Muito bom o seu comentário, o texto transposto do livro foi muito legal, aliás o livro do Tio Isidoro é ótimo, eu também lendo o livro conheci a história do Tio. Beijos da sua prima.